quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Como fazer uma boa confissão (Projeto ÉFETA-15/10)

Como fazer uma boa confissão?


Na luta contra o pecado, uma das grandes armas de auxílio do cristão é o sacramento da Penitência. Quando, por infelicidade, o homem cai no abismo do pecado, é por meio da Confissão que ele se reconcilia com a Igreja; é através da acusação aos sacerdotes, "embaixadores em nome de Cristo"01, que ele recupera a graça de Deus.
Para colher os frutos deste sacramento, além do simples perdão dos pecados, é necessária a colaboração do homem. Os sacramentos, enquanto instrumentos de Deus para aplicar os méritos de Cristo, aumentam a graça de forma infalível (ex opere operato), mas, na prática, o seu efeito santificador é proporcional às disposições interiores da alma (ex opere operantis). Se uma pessoa que se confessa quotidianamente não consegue notar nenhum progresso na vida espiritual ou nenhum sinal de que está trilhando a senda da santificação, isto pode acontecer não por causa da ajuda divina, mas pela imperfeição de suas próprias disposições.
Assim como o sol é um só, mas atua diferentemente quando seus raios caem no metal ou no barro, a graça de Deus também atua sobre todos aqueles que a pedem, mas alguns, abrindo-se mais à Sua ação, se santificam mais que outros. O calor que o sol provoca é diferente não por um defeito seu, mas justamente porque age sobre materiais diferentes. Na eficácia do sacramento o homem não influi como causa, mas como recipiente.
Quanto às disposições interiores do penitente, elas dividem-se em habituais e atuais.
As primeiras resumem-se, de modo prático, às três virtudes teologais. Quem quer que se achegue ao tribunal da Confissão deve aproximar-se dele com espírito de fé, afinal, embora vá acusar seus pecados a um homem, pecador como ele, quem age na absolvição dos pecados e aconselha o penitente é o próprio Cristo. "Só Deus perdoa os pecados", indica o Catecismo da Igreja Católica. No entanto, "em virtude de sua autoridade divina, [Ele] transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome"02. Ao entrar no confessionário para ouvir os fiéis, também os sacerdotes deveriam tomar consciência da dignidade deste "ministério da reconciliação"03 exercido por ele in persona Christi.
O penitente deve ainda se aproximar deste sacramento com a máxima confiança (esperança) de ser perdoado – contanto que esteja verdadeiramente arrependido de suas faltas – e com amor de Deus, sem o qual ele não pode se desapegar de seus pecados, por leves que sejam.
As disposições atuais para receber este sacramento são aquelas necessárias ao penitente à hora da acusação. O que é necessário para se confessar – e se confessar bem? O padre Antonio Royo Marín escreve:
"Em primeiro lugar, acercar-nos-emos do tribunal da penitência em cada ocasião como se aquela fosse a última confissão de nossa vida, como preparação imediata para o viático e o juízo de Deus. Deve-se combater com energia o espírito de rotina, não se confessando por mero costume de fazê-lo a cada tantos dias, mas empregando o máximo empenho em conseguir, com a graça de Deus, uma verdadeira conversão e renovação de nossa alma."04
A primeira das disposições atuais tratadas pelo padre Royo Marín em sua obra é o exame de consciência. Quem está habituado a realizar esta prática todos os dias05, não sentirá muitas dificuldades em examinar-se antes da confissão, já que terá sempre diante de si as faltas cometidas, prontas a serem contadas ao sacerdote. À hora do exame, é importante não desculpar os próprios defeitos, tentando atribuir a causa dos pecados a fatores externos, nem inventar pecados que sequer foram cometidos – prática comum de almas escrupulosas. Ao mesmo tempo, quanto às faltas veniais, não se deve perder tempo com detalhes, mas, sim, procurar a raiz dos problemas, a fim de que o confessor não apenas perdoe os pecados, mas indique os remédios para a cura da doença espiritual que a pessoa apresente.
Sem a contrição de coração o sacramento da Confissão sequer é válido. Santo Tomás escreve que "a matéria próxima deste sacramento são os atos do penitente, que têm, por sua vez, como matéria os pecados arrependidos e confessados e pelos quais cumpre uma satisfação. Daí se segue que a matéria remota da penitência são os pecados, não enquanto desejados na intenção, mas enquanto devem ser detestados e destruídos"06. Ora, sem "detestar" os pecados cometidos, não há matéria para este sacramento. Quem se aproxima do tribunal da Penitência sem arrependimento, por mais que receba a absolvição, não é perdoado.
O motivo pelo qual o pecador se arrepende também é importante: não pode ser por qualquer coisa natural – por uma doença física ou pela vergonha diante dos homens, por exemplo –, mas por uma aflição de origem sobrenatural: o indivíduo arrepende-se ou porque perdeu o Céu e mereceu as penas eternas do inferno (atrição) ou porque, tomando consciência do grande amor com que foi amado, foi ingrato e perdeu Deus, o sumo Bem (contrição perfeita).
Tanto a atrição quanto a contrição perfeita são válidas como arrependimento, mas quem quer que deseje trilhar o caminho da santidade não deve se contentar com a senda do temor.
"Nada, pois, há de procurar com tanto empenho a alma que queira santificar-se como esta intensidade de contrição nascida do amor de Deus, da consideração de sua infinita bondade e misericórdia, do amor e dos sofrimentos de Cristo, da monstruosa ingratidão do pecador para com um Pai tão bom, que nos tem enchido de incompreensíveis benefícios etc. Mas, bem persuadida de que esta graça da perfeita e intensa contrição é um dom de Deus que só se pode impetrar por meio da oração, humilhar-se-á profundamente diante da divina Majestade, implorando-a com insistência, por intercessão de Maria, mediadora de todas as graças."07
As pessoas tendem a confundir esta contrição perfeita com um sentimento, com uma expressão física de comoção ou de dor, mas isto é um aspecto meramente acidental do arrependimento. "Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio de suspiros, lágrimas, etc.: tudo isto pode ser sinal de contrição, não é, porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus"08. Assim, só Deus, que perscruta o coração dos homens, é capaz de ver a verdadeira contrição.
Tal é a importância dessa disposição interior que o Doutor Angélico adverte ser tanto maior a graça que se alcança após a absolvição quanto mais intensa for a contrição forjada pelo penitente. "A intensidade do arrependimento do penitente é, às vezes, proporcionado a uma maior graça que aquela da qual caiu pelo pecado; às vezes, a igual; e, às vezes, a menor. E pela mesma razão o penitente se levanta às vezes com maior graça do que tinha antes; às vezes, com igual; e, às vezes, com menor"09, escreve. Por isso, diz o pe. Royo Marín, "é (...) de grande importância procurar a máxima intensidade possível no arrependimento e na contrição para lograr recuperar o mesmo grau de graça ou quiçá um maior do que o que se possuía antes do pecado"10.
Também não é possível obter o perdão dos pecados sem o propósito firme. Mais do que tornar ineficaz a recepção do sacramento, a sua falta acaba por invalidar a absolvição. Afinal, se a pessoa se acusa ao sacerdote mas não está disposta a renunciar ao pecado, deixando de cometê-lo, qual o sentido de seu arrependimento? O padre Royo Marín alerta ainda que, além de um "propósito geral de não voltar a pecar", é preciso que o penitente tome "uma resolução clara, concreta, enérgica, de empregar os meios para evitar tal ou qual falta ou se adiantar na prática de uma determinada virtude"11.
Considera-se, enfim, a confissão vocal. Santo Tomás resume, em alguns versos, quais devem ser as qualidades da boa acusação: Sit simplex, humilis confessio, pura, fidelis, atque vera, frequens, nuda, discreta, libens, verecunda, integra, secreta, lacrimabilis, accelerata, fortis et accusans, et sit parere parata. – Seja simples, humilde a confissão, pura, fiel, frequente, clara, discreta, voluntária, verecunda, íntegra, secreta, lacrimosa, pronta, forte, acusadora e disposta a obedecer12. Destas dezesseis qualidades, destaque-se os termos "humilde" – pois o penitente deve colocar-se diante de Deus como quem não está merecendo nada –, "íntegra" – pois os pecados mortais devem ser confessados integralmente e na maior precisão numérica possível – e "frequente" – pois, sendo um meio eficacíssimo de santificação, deve ser procurado continuamente, assim como o procuraram os grandes santos.
Por fim, chega-se à satisfação sacramental. Embora as faltas do penitente sejam plenamente perdoadas já na acusação contrita, restam a pena temporal devida pelo pecado e a enfermidade que deve ser remediada pelo confessor. É neste departamento que cabem as exortações à terapia das doenças espirituais13. É importante que o fiel cumpra atentamente e o mais depressa possível a penitência imposta pelo sacerdote, já que, diz o Doutor Angélico, "nela opera o poder das chaves, de sorte que tem mais valor para expiar o pecado que se o homem realizasse a mesma obra por seu próprio arbítrio"14.

Padre Paulo Ricardo
Referências
1.       2 Cor 5, 20
2.       Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1441
3.       2 Cor 5, 18


Site CHRISTO NIHIL PRAEPONERE

Os 10 Mandamentos da Lei de Deus (Projeto ÉFETA)

Os 10 Mandamentos da Lei de Deus

Durante este Ano da Fé, a Renovação no Espírito Santo apresentou uma releitura dos 10 mandamentos por meio da iniciativa “10 praças para 10 mandamentos“, com dez grandes eventos (cada um deles dedicado a um preceito) de oração, louvor, música, dança e testemunhos de fé, nas principais praças de dez cidades italianas.
Esta é a sua interessante “tradução” das Tábuas da Lei à linguagem atual, para mostrar ao homem de hoje o caminho de liberdade traçado nestes dez preceitos:
Eu sou o Senhor teu Deus. A crise do homem moderno é crise de Deus, eclipse de Deus, ignorância de Deus, aversão a Deus. A esperança dos homens é decepcionada quando buscam respostas fora de Deus. O homem subordina sua vida, seu futuro, tudo o que possui de bom a outros “senhores”. Longa seria a lista de todos os “falsos senhorios” propostos pelo espírito do mundo, oposto ao Espírito de Deus.
Não terás outro Deus fora de mim. Os ídolos parecem desfrutar de uma saúde excelente, enquanto Deus parece suscitar menos fascínio no homem moderno. No entanto, são “ídolos mudos”, que não podem salvar o coração do homem em sua mais recôndita necessidade de amar e ser amado. Quantas imitações, quantas distorções do verdadeiro rosto de Deus! Faz-se guerra em nome de Deus, mas Deus é uno; se é “uno”, não pode estar em conflito, em perene conflito entre gerações e povos.


Não invocarás o nome de Deus em vão. De quantas maneiras se insulta Deus, se blasfema, se altera sua verdadeira essência! É fácil usar o nome de Deus adaptando-o às próprias necessidades. Há muitos falsos profetas que abusam dos outros, especialmente dos “fracos”, em nome de Deus. Há crentes que dizem se salvar sozinhos, dando a Deus o nome de “misericórdia”, mas esquecendo que seu nome também é “verdade” e “justiça”.

Santificarás as festas. A festa e, portanto, o repouso do trabalho, é o espaço oferecido para a intimidade com Deus. O tempo reservado à descoberta de si mesmo em relações de verdadeira fraternidade com os outros. Assistimos à desnaturalização desta verdade: a festa não alimenta mais a necessidade que o homem tem de Deus, mas o faz esquecer disso, tornando-se cada vez mais sinônimo de consumismo, prazer, aquisição e desfrute dos bens materiais.


Honrarás teu pai e tua mãe. Os filhos nascem de um pai e de uma mãe, não de doadores de esperma ou de barrigas de aluguel, em nome de uma nova ética social. Quantos filhos órfãos, pela paternidade negada ou rejeitada inclusive pelas próprias legislações humanas! Como os filhos poderão honrar seus pais e mães se estes se mantêm “anônimos”? Quem honra pai e mãe respeita sua própria história, as memórias familiares que conferem identidade social.


Não matarás. É possível matar de muitas maneiras, não somente com armas; mata-se também com a língua, com a ignorância, com o silêncio. Não matar significa também defender a vida, sempre, e não somente quando se pode ou convém. A vida: em seu início, em seu desenvolvimento, em seu final. A vida não pode ser mortificada. Em tempos de crise, não se podem favorecer novos assassinos: os suicídios são muitas vezes filhos de uma pobreza provocada ou de um bem-estar desenfreado que desaparece de repente.


Não cometerás atos impuros. Os atos impuros também são cometidos por uma cultura obcecada, que faz da liberação do sexo um dos seus maiores negócios, precisamente a partir da degradação da dignidade do homem e da mulher. Tornar a prostituição mais “decente” não a torna menos exploração do corpo; pelo contrário, cedo ou tarde, inclusive a pedofilia será socialmente compatível com as “necessidades da modernidade“. É impuro não conservar a unidade entre corpo e espírito, violentar o espírito em nome do bem-estar corporal.


Não roubarás. O furto é uma intenção má que está dentro de nós. Não se trata somente de não roubar algo de uma pessoa, e sim de não roubar a pessoa em si, ou seja, privá-la do seu tempo, da sua dignidade, do seu futuro, da justiça, da paz. É preciso educar na generosidade de coração, experimentando a economia do dom, da gratuidade. A raiz do “não roubar” também é o possuir: rouba-se porque não se está satisfeito com o que se tem, invadido pelo desejo de ter e acumular.


Não levantarás falso testemunho. Também o falso testemunho está dentro de nós como mentira, como abrandamento da verdade. É uma atitude que se torna cultura, que se estabiliza no homem como simulação, ficção, verossimilitude da realidade substituída pela ficção. Estar do lado da verdade, defendê-la, é um ato de justiça e de amor a si mesmo e aos outros.


Não desejarás a mulher do próximo. “A mulher do outro”: parece um mandamento aos homens; mas hoje também significa “o homem da outra”. A mulher e o homem não são uma coisa que se deseja, que pertence a alguém como objeto. Quantos delitos passionais, quanta violência doméstica, quanta discriminação do gênero feminino respondem a esta lógica desumanizadora!


Não cobiçarás as coisas alheias. A inveja se encontra na base deste e do anterior mandamento. É o mais “sociável” dos vícios. A modernidade exaltou a cultura da inveja. Nas sociedades civis avançadas, no Ocidente, o pressuposto da democracia é a igualdade: “devo ter os mesmos direitos dos outros”. Mas isso não significa sofrer do “complexo de ser idênticos”, ou seja, de possuir as mesmas coisas que os outros, tornando-se escravo das coisas, empobrecendo-se, endividando-se, enfermando-se por aquilo que se inveja e não se pode possuir.

Em sua mensagem aos participantes da iniciativa “10 praças para 10 mandamentos“, o Papa Francisco perguntou: “Que sentido têm para nós estas Dez Palavras? Que dizem elas à nossa época, agitada e confusa, que parece querer renunciar a Deus?”.
E respondeu: “Os Dez Mandamentos são um dom de Deus. A palavra ‘mandamento’ não está na moda; ao homem de hoje evoca algo de negativo, a vontade de alguém que impõe limites, que causa obstáculos à vida. E infelizmente a história, também recente, é marcada por tiranias, ideologias e lógicas que impuseram e oprimiram, que não procuraram o bem do homem, mas sim o poder, o sucesso e o lucro”.
“No entanto, os Dez Mandamentos derivam de um Deus que nos criou por amor, de um Deus que estabeleceu uma aliança com a humanidade, de um Deus que deseja só o bem do homem. Tenhamos confiança em Deus! Confiemos nele!”, exclamou o Papa.




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